Oded Grajew, o brasileiro
“Oded Grajew, o brasileiro” por Montserrat Martins do portal EcoDebate
“Na Suécia existem escolas particulares mas as pessoas vão para as públicas mesmo porque são de qualidade”, conta Oded Grajew, um dos criadores do Fórum Social Mundial e do Programa Cidades Sustentáveis (PCS). A história e as contribuições de Oded merecem ser conhecidas por todos, mostrando como se pode ser útil ao país e a melhorar os governos, sem participar de partidos políticos.
Porto Alegre, São Paulo e mais 40 cidades já aprovaram uma lei orgânica que estabelece a apresentação do Plano de Metas pelo Prefeito eleito, no prazo de 90 dias após a posse, incluindo ali as promessas de campanha. Esse plano deve quantificar as metas, de modo a que todos possam acompanhar sua evolução. Assim a avaliação dos prefeitos sai do terreno da mera subjetividade, se são “simpáticos” e sorridentes ou não, passando para a esfera de suas ações. Isso eleva o nível do debate político.
Para que todo o país pratique isso, estão no Congresso Nacional a PEC 10/11 e a PEC 52/11. Estabelecem que o governo federal, os estaduais e os municipais são obrigados a ter Plano de Metas, com transparência em sua divulgação de modo que os eleitores possam acompanhar como está evoluindo o seu cumprimento.
Esses planos devem incluir critérios como desenvolvimento sustentável, inclusão social e respeito aos direitos humanos, além dos temas mais conhecidos como saúde, educação, segurança, mobilidade urbana.
A realidade não muda magicamente com aprovação de leis, mas a sua importância é didática. Ao invés de discutir “belezas” dos candidatos, os debates passam a ser pautados por critérios mais objetivos e sob o controle da população que desejar se informar a respeito. Foi com essa motivação que Oded e parceiros do PCS propuseram as PEC das Metas, para mudar nossa cultura política e da administração pública.
No Brasil temos uma tradição política autoritária, impositiva, que vem dos tempos do Império e das Capitanias Hereditárias, passa pela República decretada por presidentes militares, se consolida com o Estado Novo de Getúlio e, por fim, com a Ditadura Militar dos anos 60 a 80. Não é à toa que os brasileiros esperam leis mais duras e punitivas como panacéia para solução dos problemas sociais.
A PEC 10, ao contrário, não estabelece punições pois Oded entende que seu caráter é pedagógico. Com sua sabedoria sueca (embora nascido em Tel Aviv), ele não quer “judicializar” a política, quer os debates entre a população e não nos Tribunais.
Nos falta um nível mais elevado de debates e os Planos de Metas proporcionam isso, de modo objetivo, sem sensacionalismos. Oded parece “muito europeu” para ser brasileiro, mas sua vida profissional (de empresário) e social é toda no Brasil. Uma propaganda dizia que o brasileiro “não desiste nunca” e isso é a cara do Oded.
*Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.
“Oded Grajew, o brasileiro, artigo de Montserrat Martins,” in Portal EcoDebate, 25/01/2016, http://www.ecodebate.com.br/2016/01/25/oded-o-brasileiro-artigo-de-montserrat-martins/.
Imagens: Programa Cidades Sustentáveis e Klaus Hart.